Necrológico do Professor Hildoberto Carneiro de Oliveira

QUEM FOI O PROFESSOR HILDOBERTO CARNEIRO DE OLIVEIRA?

Não estou falando do Professor Doutor Hildoberto Carneiro de Oliveira, Professor Titular da Disciplina de Ginecologia da UERJ, Professor Adjunto da Disciplina de Ginecologia da UFRJ, Mestre e Doutor em Ginecologia pelo IG-UFRJ, Livre Docente em Ginecologia pela UNIRIO, Membro Titular da Academia Nacional de Medicina, Diretor Técnico do Hospital Municipal Pedro II e do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, Vice-Presidente da Associação Médica do Estado do Rio de Janeiro (SOMERJ), Presidente da Associação Médica de Nova Iguaçu (AMNI), Presidente da SGORJ, Presidente da FEBRASGO, Fundador da Confederação de Ginecologia e Obstetrícia do MERCOSUL (1997), Ex-,Secretário de Saúde de Nova Iguaçu, Membro Titular da Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (ACAMERJ), Membro Titular da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO), Membro Titular da American Fertility Society (AFS), Membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Cidadão Honorário da Cidade de Nova Iguaçu (2011) e da Cidade do Rio de Janeiro (2013), Presidente da Associação Médica de Nova Iguaçu (AMNI), Editor do Tratado de Ginecologia da FEBRASGO (até hoje o livro de Ginecologia mais vendido do Brasil), autor de inúmeros artigos e livros publicados que são referências nacionais e internacionais na especialidade de Ginecologia, Bacharel em Direito pela Universidade Estácio de Sá-RJ. Não, não é desse profissional com curriculum impecável que estou falando. Esse todos tiveram oportunidade de conhecer e admirar.

Estou falando do Hildoberto, Hildo (para alguns), Dodô (para mais poucos ainda). Estou falando do homem humilde que nasceu, em 15 de outubro de 1940, no meio dos igarapés e seringais da floresta amazônica, no município de Boca do Acre (AM), na divisa do Estado do Amazonas com o Estado do Acre, distando mais de 40 Km de Rio Branco, cidade urbana mais próxima. Estou falando do menino simples que tinha o sonho de proporcionar uma vida melhor para sua família, que iniciou sua alfabetização somente aos 10 anos, caminhando por horas pela floresta e igarapés para chegar à escola mais próxima. Do garoto que encantou seus professores e que, por ter sido o melhor aluno do Acre, recebeu uma bolsa de estudos para fazer o fazer o científico (atual segundo grau) no Instituto Lafayette, na cidade do Rio de Janeiro. Que aqui chegou com a roupa do corpo, concluiu seus estudos e foi aprovado com louvor para o Curso de Medicina da Escola de Medicina e Cirurgia da FEFIERJ (atual UNIRIO), uma universidade pública Federal. Que chegou a dormir na rua e que, ainda acadêmico de medicina, fazia plantões em clínicas particulares da baixada fluminense (principalmente em Nova Iguaçu) para ter onde dormir e onde comer. Estou falando do jovem médico que optou pela Tocoginecologia, se encantou pela docência, se tornou mestre e doutor em Ginecologia, conseguiu um curriculum invejável, fez mais de 40.000 partos, salvou centenas de vidas, mas que nunca perdeu sua humildade nem o respeito pelos pacientes e colegas de profissão.

Estou falando do Hildoberto pai que, com seu exemplo, inspirou quatro de seus cinco filhos a seguirem a carreira de Medicina. Estou falando do Hildoberto marido que produziu uma parceria admirável e frutífera com sua companheira durante 33 anos. Estou falando do Hildoberto irmão que ajudou seus irmãos a virem para o Rio de Janeiro e encontrarem seus caminhos profissionais e pessoais. Estou falando do Hildoberto Professor que produziu inúmeros discípulos e ex-alunos, os quais carinhosamente o reverenciam como “nosso eterno mestre”. E, finalmente, estou falando do Hildoberto amigo e conselheiro, que tinha sempre uma palavra calma, sábia e otimista, nos momentos mais difíceis. Que pregava e agia com honestidade, humildade, amizade e amor. Não estou falando de um homem santo. Como todo ser humano, não era perfeito, tinha seus defeitos como todos nós. Algumas vezes teimoso e obstinado, com certeza deve ter feito alguns desafetos mas, se isso ocorreu, foi porque essa pessoa não teve oportunidade de conhecê-lo melhor, porque o Hildo pregava sempre a conciliação e o caminho do entendimento.

Dia 8 de junho de 2020, o Brasil e o mundo perdeu um grande médico, um grande cirurgião, um verdadeiro imortal da Academia Nacional de Medicina, mas eu, os familiares e demais amigos perdemos muito mais: perdemos um pai, um irmão, um amigo, um mestre, um exemplo. Um exemplo de vocação, de dedicação, de perseverança, de determinação, de humildade, de competência e de fidelidade à profissão, à família e aos amigos. Foi se juntar a outros mestres inesquecíveis, com os quais muito aprendeu, muito ensinou e muito amou, em especial a Professora Anna Lydia do Amaral, o Professor Luiz Beethoven do Amaral e o Professor Alípio Augusto Camelo. Deixou, também, muitos alunos e discípulos, dentre os quais humildemente me incluo. Resta-nos seguir nossa trajetória nessa vida, honrando e transmitindo seus ensinamentos às próximas gerações, não deixando apagar a chama de sua luz.

Vai com Deus, meu amigo, vai iluminar com seu brilho os caminhos celestiais e, de onde estiver, continue nos inspirando com sua sabedoria e sua calma para que trilhemos com honestidade e competência nossos caminhos e que sejamos dignos de manter viva e com orgulho a sua memória.

 

Paulo Gallo de Sá.


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